terça-feira, 17 de maio de 2011

Entrevista Duncan Leung


Devido á minha falta de tempo,pra postar sobre assuntos mais técnicos,vou reproduzir aqui uma entrevista postada pelo sifu MArcos de Abreu em seu blog (recomendo hein galera!!) http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com com o Sifu Duncan Leung. Aproveitando pra dizer que vamos estrear em breve, uma sessão de posts novos entituladas "Entrevistas", com os principais sifus de Wing Chun do país, esperamos que gostem... 


Entrevista Duncan Leung

DESARQUIVANDO DUNCAN LEUNG
O CONTRADITÓRIO “GÊNIO NEGRO” DO WING CHUM FALA SOBRE YIP MAN, BRUCE LEE E O QUE HÁ DE ERRADO COM SUA ARTE.
“Eu me lembro muito bem das duas primeiras vezes que briguei com alguém armado de faca. Ao invés de fugir como antes, eu lhe mostrei uma faca”.
“Eu pude sentir meu corpo inteiro congelar. Meus braços e pernas de repente se sentiram tão fracos que se meu oponente se contraísse, meu coração tentaria pular fora do peito”.
“Eu fico pensando: ‘Será que a lâmina é muito amolada?’... ‘Como seria se eu me cortasse? Minha boca estava bem seca. Eu pude ver que os olhos dele também estavam cheios de medo...’”.
Tirado da introdução do Manual de Luta com Faca de Duncan Leung de acesso apenas a soldados e policiais.
Duncan está sério. Ele não sorri, ele não está brincando.
Hoje em dia ele é um esbelto fumante de 52 anos, de pouco cabelo e bigodes grisalhos. Não é velho, não é novo, mesmo assim ainda está comandando.
Parte disso deve-se a sua voz profunda – parece a de Yul Brynner – e outra parte do seu olhar.
Quando ele te olha, você sente que Sifu Leung está tomando suas medidas... Contra gigantes.
FLASHBACK – Hong Kong, 1956, Duncan Sil Hung Leung, aos 15 anos, está lá fora correndo na sacada.
Bruce Lee aparece e grita: “Tenho algo novo para te mostrar”.
Duncan gosta de Bruce. Sua prima, que é atriz de filmes, os apresentou. Esses dois caras têm um interesse em comum: vencer brigas de rua.
Então os dois se juntam na sacada para testar a novidade. Duncan não está muito preocupado; está acostumado com as coisas de Bruce. Eles começam a fazer sparring.
QUARTO DE RESPIRAÇÃO
Duncan Leung conta a história com seu vozeirão, 40 anos mais tarde.
“Depois de um tempo eu disse, ‘Ainda não tem espaço suficiente’.
Aí fomos para a colina. Espaço não faltava lá, mas...
‘Onde você aprendeu isso?’ Perguntei pra ele – a técnica era “caça punhos”. Ele me disse que tinha um professor novo e que ele gostaria que eu conhecesse.
O nome do Sifu era Yip Man”.
Uma pausa cheia de respeito e curiosidade interrompe a conversa.
Que privilégio ter sido ensinado pelo pai do Wing Chun moderno! Lembra como Sifu Man foi retratado em Dragon? Como um velho Santo de olhos brilhantes, como Ghandi no corpo de George Burns interpretando Deus.
Hoje Duncan é diretor de administração de uma companhia de importação – exportação com escritórios em Virgínia Beach e Hong Kong. Previamente ele desfrutou de sucesso em caças diversas como a filmes de Hong Kong (onde ele produziu 24 longas-metragens) a armas de fogo (de uma só vez ele foi o décimo quinto maior importador dos EUA). E quando ele viajava internacionalmente para ensinar Wing Chun era o mais bem pago do circuito.
O amigo de Bruce Lee ainda é o mais intensamente provado e menos publicado de outros grandes no renascimento de meio século das artes marciais de Hong Kong. Lidar com ele talvez leve a vê-lo como um anti – Bruce: ‘gênio negro’ do renascimento dourado do Wing Chum.
REVOLUCIONÁRIO
Duncan Leung não é um gênio somente por ter trocado golpes com lendas. Ou porque desde a sua adolescência ele nunca perdeu uma briga (e briga de rua é sua maior paixão – “diariamente. Durante anos. É divertido”). No entanto, Duncan fez o que os gênios fazem – revolucionou.
Duncan Leung alterou radicalmente a natureza da defesa pessoal por toda uma geração de praticantes, nos bastidores, como Bruce Lee fez publicamente. Como? Durante vinte anos ele ajudou a redefinir combates para mulheres e homens americanos de uniforme, aqueles parecidíssimos com a luta mortal: nossas forças armadas e autoridades legais.
Mais do que apenas um artista marcial profissional, Leung é um profissional de profissionais. Ele não treina alunos, mas os instrutores, que são mais difíceis de impressionar.
Duncan já foi tutor das tropas de choque mais fortes do planeta, Navy SEALS. Atrás de sua carteira tem placas do Team Two e do Team Four: “Pelas lições bem ensinadas”. Ter treinado SEALS é um certificado de conhecimento avançado – já que pode impressionar SEALS...
Vamos ouvir David K. Paaina, instrutor chefe Hand to Hand do SEAL Team Two:
“Suas maneiras afáveis, a intensidade com a qual ele ensina e a maneira com a qual ele conduz os negócios me levam apenas a concluir uma coisa; que ele é o melhor profissional que eu já vi.
Qualquer que sejam seus esforços, eu apoio Duncan de todo.
De mim e de meus colegas de time partem agradecimentos e gratidão de coração”.
Da Marinha, do Exército, do FBI, da Polícia da Virgínia, Duncan Leung tem mais cartas de tributo do que ele pode emoldurar, tem mais placas do que paredes para colocá-las. Só tem um pequeno espaço para o Colt 45, gravado, presenteado pelo FBI.
VINDO DAS SOMBRAS
Aqui está um homem extraordinário, aparentemente no auge dos seus poderes. Ainda que recentemente isso tenha ido adiante, fora das suas da sacola preta de operações e informações classificadas para dar consultoria, Duncan Leung diz que sua missão está cumprida: “estou cansado e de saco cheio de qualquer arte marcial”.
Duncan olha para baixo para jogar o cigarro fora. É difícil não dar uma olhada na sua cicatriz de novo. Parte de sua ‘geniosidade negra’ deve-se às suas cicatrizes.
FLASHBACK – Cantão, China, 1942. Duncan nasceu numa família de boas condições. Seu pai era dono de jornais. Vários anos mais tarde eles se mudaram para Macao, quando aconteceu uma tragédia: Duncan testemunhou o assassinato do próprio pai. Está é a cicatriz interna.
Aos sete anos, um trabalho dentário fica infeccionado e leva à cirurgia que, infelizmente, também é mal feita. Resultado: sua mandíbula carrega uma cicatriz profunda, na frente de sua orelha direita. Está é a cicatriz externa.
Então o destino entra em cena, como não poderia deixar de ser: os médicos sugerem artes marciais como terapia pós-operatória. Foi assim, portanto, que tudo começou, para trazer sua cura.
“No começo eu não queria aprender a lutar. Mas depois que eu aprendi artes marciais, fiquei interessado em - eu era um menino mau, de qualquer forma – em machucar pessoas. Eu pensei: ‘É um jogo, é bom, é divertido.’. E comecei a gostar da idéia”.
“Aí você iria lutar com Bruce”.
“Não tanto quanto os jornais dizem... Bruce Lee era bom. Ele era bom quando treinávamos junto com Old Man, e mais tarde (quando voltou de Hong Kong) era melhor ainda. Significava muito para mim o fato do Bruce Lee ter mantido contato comigo”.
ANOS DE EXPERIÊNCIA
A entrevista de Duncan se passou no espaço da escola de Wing Chun, que ele divide em noites alternadas com seu amigo Sifu Hoy Lee, o sênior americano de Jow Ga.
“Por que você está concedendo uma entrevista de artes marciais depois de tantos anos?”.
“Não é para me promover” Não estou mais ensinando. Mas... Eu me sinto na posição de contar minha experiência para as pessoas pelo inferno que passei adquirindo-a.
Sim, eu quero que as pessoas entendam – O que é arte marcial? A arte é – Eu posso te bater, mas você não me bate. E eu quero que saibam – qual a melhor arte marcial? É aquela que te traz confiança, que te convence e que combina com você. Quem é melhor professor? Não é o quanto o professor é bom, mas sim o quanto ele te faz bom.
Por último, o que é Wing Chun? Você domina o seu oponente não pela força ou pela velocidade, mas encurtando sua distância, quebrando seu ritmo – e avançando. Porque eu quero fazer com que você venha a mim.
E só há uma maneira de descobrir o que é útil ou não, se você aprendeu alguma coisa ou não. Tente. Justamente como Old Man nos ensinou: ‘ Quer saber o quanto você é bom? Arrisque, procure briga’. E se você foi bem treinado você não vê, você não enxerga. Apenas reage.”
E quanto mais ele fala de Yip Man, mais óbvio fica que Duncan o venera. Old Man odiava estrangeiros. “Ele cobrou $8, 00. Comecei a treinar com Bruce. Mas continuei observando o que os alunos mais velhos estavam fazendo. Depois fui até Old Man e disse: ‘Isso é tudo?’ É que eu não estava muito impressionado. ‘O que você espera por $8,00?’, ele me perguntou: tem $300 aí?”.
“DEFENDENDO A TIGELA DE ARROZ”
Duncan explica que se Sifu Man tivesse que expor os principais ensinamentos do Wing Chun para os alunos menos informais, em breve ele os veria abrindo escolas concorrentes na mesma rua. Old Man estava apenas “defendendo sua tigela de arroz”.
Então Duncan fez que sua mãe pagasse, durante anos, por aulas particulares. O resto é história. Ele seguiu adiante para se tornar um dos dois ou três melhores lutadores de Wing Chun de sua geração, nivelando-se a Willian Cheung, quem ele conhece e admira.
“E quanto à herança de Yip Man?”.
“O Old Man criou dois problemas... Hoje em dia você vê o Wing Chun, todos pensam que estão fazendo a coisa certa, no entanto 99% das escolas que você for, ensinam de jeitos diferentes. Por quê? Todas vêm de Old Man”.
“Bem, dizem que ele modificaria os ensinamentos de acordo com...”.
“Não. Wing Chun é muito abstrato. Ou você entende ou você não entende. Se não entender, pergunte assim, ‘Sifu, está certo assim, não é?’
Ele sempre disse; ‘sim, você é um gênio, você é o melhor’. Então, o que você pode pensar? ‘Ora, estou fazendo direito, ele (seu colega) está fazendo errado’. E é por isso que – mesmo estilo, ensinando do mesmo jeito – todos fazem diferente.
O segundo problema, ele não te ensinaria nada se não fosse pago suficientemente”.
“Qual foi a lição mais importante que ele te ensinou?”.
“Old Man disse: ‘não acredite em mim. Descubra por você mesmo se funciona ou não. Daí você sabe se fez certo ou errado; daí você tira se o que eu te ensinei é bom ou ruim’”.
“Ele te ensinou a procurar briga?”.
“Nos levou a elas, para falar a verdade”.
“Você não pode fazer isso com os alunos hoje em dia, ou pode?”.
“Não. Old Man disse também: ‘Quer fazer o melhor nas artes marciais? Você tem que: ser jovem quando quiser aprender. E tem que ser impulsivo. Jovem e impulsivo. E tem que ter tripas, ser capaz de suportar alguma dor. Tem que ser rico, para poder me pagar. E acima de tudo, não ter hábitos’”.
“Não ter maus hábitos”.
“Não, nada a ver com fumo ou bebida. Não ter hábitos – problemas familiares, garotas, seus problemas de infância, os problemas de seus pais”.
No mesmo ano em que Bruce Lee deixou Hong Kong, para ir para os EUA, Duncan se mudou para a Austrália. Eventualmente, ele se viu muito envolvido com importação-exportação DOW UNDER, o que significou bastantes viagens.
CONCLUINDO
Em 1970, durante uma viagem de negócios a Nova Iorque, Duncan recebeu uma oferta de trabalho que consistia em dar aulas particulares. Como houve divulgação boca a boca, e com isso Duncan se encheu de clientes, ele abriu sua primeira escola americana na 2 Greet Jones Street Chinatown, Nova Iorque. A América descobriu Duncan Leung.
Houve várias jogadas rancorosas associadas com seu pioneirismo em ensinar em escolas de livre acesso, nesses dias sempre houve sifus que se sentiriam chamados pela honra para desafiá-lo por ensinar “segredos” chineses a “estrangeiros diabólicos”.
No Koon (academia) da rua Great Jones, uma “disputa com o portão fechado”, passou a significar que os oponentes de Duncan não conseguiam sair antes de serem jogados pra fora.
“Como você espera que eu te demonstre o Wing Chun? O único caminho é: ‘Okay,Teste-me’”.
Um dos professores que testaram Duncan foi Ron Van Clief, visto recentemente lutando contra Royce Gracie no Ultimate Fighting Championship IV. Na tradição de seus estilos, Duncan e o Dragão Negro tornaram-se amigos. Eles ainda fizeram um poucos de show business e história das artes marciais juntos através da co-produção do primeiro kung fu na Broadway, uma revisão de astros chamada “Kung Fu - Uma mística excursão no mundo da defesa pessoal oriental”
“Todos estão fazendo Chi Sao demais” ele diz sobre o Wing Chun de hojePor quê?“Eles não tem ensinado para você nada além de Chi Sao. Wing Chun é famoso por causa do Chi Sao. Sim, isso é coisa mais importante – para um iniciante”.
“Mas quem luta com Chi Sao? Como se não há contato? Seu oponente não tem de estar em contato para lançar um chute ou um soco em você. Chi Sao é importante para aprender sensibilidade, mas o mais importante é aprender a se cobrir”.
“Veja, nós não bloqueamos. Nós cobrimos. Bloquear nunca funciona. Bloqueando, você tem de ver o que acontece, então você se protege. Cobrir é: antes de acontecer, você se cobre. Então eu sempre estou um passo à frente de você”.
“Na maioria dos estilos, eles batem uns nos outros. No Wing Chun, eu estou cobrindo e batendo ao mesmo tempo. Nós fazemos tudo simultaneamente. Resultado: Eu sou duas vezes mais rápido, e eu não sou atingido”. Pausa.
Nós interceptamos (chutes) usando chutes baixos de parar chutes. Você não pode me alcançar, eu vou parar a sua perna primeiro Se eu estou chutando suas pernas, eu tenho melhor alcance do que você, e é mais rápido (chutando baixo, em vez de chutar acima da cintura).”
“E há prática solo (sem parceiro) demais. Wing Chun precisa ser pré-definido através de repetição, dois a dois, não sozinho. E quando eles fizerem sparring, eles não devem ficar se espancando. Isso é estúpido. Aprenda como não ser atingido.”
Já passa da meia noite quando Duncan finaliza seu interrogatório. O próprio entrevistador está preto e azul de algumas das vigorosas “explanações”. Boas-noites são ditas, ele aperta as mãos com firmeza. Ele é pequeno e blasé, e ainda depois de alguma emoção ríspida, o que Duncan Leung inspira em outro homem, além de respeito é...Lealdade.
Na manhã seguinte seu amigo Hoy Lee tenta colocar uma boa expressão na conversa sobre a aposentadoria de Duncan. “Talvez ele irá apenas dar um tempo por ora...” Ele comenta, “você conhece artes marciais. Épocas boas, algumas ruins, mas isto está sempre em seu sangue.”
Bem que Bruce poderia parar mostrar a Duncan um novo movimento, você não acha?
Por Herb Borkland, que é um freqüente colaborador da revista “Inside Kung Fu”. A última vez que escreveu foi sobre o Sifu de Maryland, Hoy Lee, na matéria de agosto de 1995

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