quinta-feira, 9 de junho de 2011

Especial - Entrevistas; Sifu Marcos de Abreu

Dando prosseguimento aos posts especiais de "Entrevistas" com os mais renomados mestres do Wing Chun no Brasil.
E é com imensa honra que o blog do Dido entrevistou este mês,um dos nomes mais conceituados do Wing Chun nacional, o Sifu Marcos Wendell Sales de Abreu,mais conhecido no meio marcial simplesmente como Marcos de Abreu.











Sifu Marcos de Abreu é paulistano, Prof. de Educação Física e Mestre da 9ª geração do Wing Chun Kuen, arte marcial chinesa popularizada graças ao superstar Bruce Lee. Foi o primeiro entre os professores brasileiros a concluir todas as fases de treinamento formal com Mestre Li Hon Ki, introdutor oficial desta luta na América do Sul, de quem foi estudante "às portas fechadas" (Closed Door Student), termo que em chinês que designa aqueles que receberam o ensinamento privativamente no mais alto grau. 

Sua experiência inclui lutas em campeonatos, treinamento na China com a sétima geração e atual Patriarca do clã, Mestre Duncan Leung, e outros mestres da oitava geração. 

É autor do livro KUNG FU WING CHUN, sucesso de vendas no Brasil, Portugal e Espanha pela Editora Escala, além de escrever regularmente na internet sobre o tema. Foi pioneiro por ser o primeiro mestre com formação autentica a criticar abertamente na mídia e em seu primeiro livro o ufanismo da luta. Criticou ainda o messianismo da figura do mestre a alienação dos praticantes, o charlatanismo e a compra e venda de certificados e títulos internacionais, defendendo a evolução técnica profissional e convidando as pessoas a repensarem esta arte marcial deixando o discurso de lado para analisar friamente a técnica e seus objetivos originais.
Mantém seu Mo Koon (ginásio marcial) na terceira maior cidade do país, Salvador, ministrando aulas regulares e particulares, além de formar instrutores de nível internacional pela Associação Applied Wing Chun Brazil, da qual é um dos seus membros fundadores junto a seus irmaos kung fu, Mestres Marcelo Florentino, Claudio Rangel e Alberto França.Nesta entrevista,sifu Marcos fala sem papas na língua sobre sua visão da arte marcial hoje no Brasil e não foge á temas controversos,sempre pontuando suas respostas com total "diretismo" e uma sinceridade raramente vista nos ias de hoje.






Blog do Dido - Na sua visão,qual é a maior diferença entre o wing chun praticado no Brasil de hoje,pro brasil de 10,15 anos atrás? Quais foram as principais mudanças e o porque de suas mudanças?
Sifu Marcos - Antes não havia uma noção de “Família Wing Chun”, isto é, as questões sociais, éticas e filosóficas que vêm junto ao treinamento, as pessoas queriam mesmo era aprender a técnica do Jeet Kune Do por causa da figura do Bruce Lee e seus filmes, e na falta disso o Wing Chun era a opção mais viável. Havia no Brasil alguns chineses e outros poucos brasileiros que haviam treinado determinados conteúdos do sistema e os transmitiam a uns poucos interessados, de forma fechada, geralmente caríssima e o aluno não tinha qualquer garantia de que aquilo que aprendia tinha qualquer procedência, pois na época não havia internet, então a possibilidade de checar informações era limitada. Mestre Marco Natali, grande escritor de artes marciais e pioneiro na difusão da luta no Brasil, por exemplo, jamais completou o sistema, fato admitido por ele mesmo em entrevista na comunidade Orkut Wing Chun Kung Fu.
Já neste período dos últimos 15 anos de que fala alguns brasileiros já estavam fazendo intercâmbio no estrangeiro visando melhorar tecnicamente ou simplesmente trazer um Wing Chun mais tradicional, isto é participar ativamente de uma organização ou família. Isto porque com a internet as pessoas começaram a ter mais acesso a informação sobre escolas e o que havia no panorama internacional sobre a arte. Outros mestres aportaram aqui, convidados ou não por brasileiros e começaram seus trabalhos. A coisa começou a evoluir, embora cada organização tenha objetivos e métodos de trabalho diferentes entre si, quando não díspares, mas acho essa variedade positiva, isso dá mais opções ao público interessado. O problema é que os profissionais vendem muitas vezes mais uma fantasia que a técnica junto com a arte: às vezes cultura chinesa, às vezes fantasias históricas sobre monges super habilidosos, ou o pior de tudo, a defesa pessoal perfeita que resolve tudo. Isso pode colocar indivíduos despreparados técnica e psicologicamente em perigo iminente e isto é simplesmente uma molecagem irresponsável. Tenho visto isso, uma espécie de discurso prosetista e ufanista, em algumas escolas. Ouvi verdadeiros absurdos numa academia de Krav Maga outro dia, e olha que eu conheço muita gente boa nesta arte marcial, que se parece muito com o Wing Chun que é mais antigo. Se você pensar que existem professores sendo formados em demasia ensinando "defesa pessoal" mas que provavelmente não existem nem duas dúzias de mestres de Wing Chun no Brasil, você começa a ficar preocupado...
Blog do Dido - O sr. lançou um livro (Kung Fu Wing Chun) de bastante sucesso no meio marcial nacional e agora já está escrevendo o próximo.Quais são as maiores dificuldades no processo de produção e pesquisa deste que é um dos mais ousados projetos referentes ao wing chun?O que o sr. considera mais importante no fator Motivação na decisão de escrever sobre wing chun?
   

(Capa da Obra escrita por Sifu Marcos; Wing Chun Kung Fu; A arte marcial treinada por Bruce Lee)
SM - Caso eu tivesse de escrever na época do Marco Natali eu teria de comprar material importado, encontrar um praticante autêntico que estivesse no país ou viajar ao exterior para obter informações. Com a internet posso, no exato momento em que dou esta entrevista, checar qualquer informação sobre qualquer ramificação do sistema disponível na rede. Por incrível que pareça não tive dificuldades sobre informação, pois além da internet eu tinha minha própria bagagem de 10 anos como aluno privativo de um Mestre que pertence genuinamente à família Wing Chun, de forma que tenho informações que a maior parte das pessoas desconhece. A dificuldade era justamente escrever para o público leigo. Eu tive nas minhas mãos a chance de mudar aquela propaganda de “melhor estilo de kung fu”, “mais isso, mais aquilo”. Isso queimou e queima a gente o meio marcial.
Eu caí meio que de pára-quedas naquele projeto. O projeto do livro estava emperrado pelas dificuldades do Sifu Alberto França Gomes em enviar material a tempo para o fechamento do mesmo, pois ele tinha apenas enviado parte das fotos, e elas só abordavam o Sil Lin Tao (primeira fase da luta). Assim, o escritor José Augusto Maciel Torres convidou-me a escrever o texto. Eu relutei bastante, porque eu sempre quis fazer algo mais autoral porque tenho uma visão de Wing Chun diferente da que se propaga hoje. O Augusto é amigo do Natali e eu, apesar de fã do Natali como escritor não concordo com a visão de Wing Chun dele e já o criticava na internet, embora sem desrespeitá-lo. Mas o José Augusto veio com um argumento muito forte: “Nós teremos 120 mil cópias em três países. Apesar de ser um dos principais alunos de Li Hon Ki, você é um ilustre desconhecido e, pior, reside no nordeste, e você sabe que as pessoas têm preconceito. Você quer começar a fazer a história do Wing Chun no país ou quer deixar isso para outra pessoa? Você acha que existe realeza no Wing Chun? Todos esses caras são uns filhos da p...”, ele disse. Não tem muita frescura, diz o que pensa, eu também sou assim então escrevi o texto e fiz metade das fotos com meus próprios alunos. Mas eu não apareço nelas. Eu não gosto de tirar fotos.
A motivação que tenho é saber que tive e tenho a chance de realmente mostrar para as pessoas o que é Wing Chun, como funciona, deixando para trás aquele discurso sobre uma luta que resolve tudo em segundos. Meu próximo projeto será totalmente autoral e isso me deixa muito animado. Vou explorar aspectos do Wing Chun totalmente desconhecidos no Brasil e tornar outros mais acessíveis aqueles que já praticam.
Blog do Dido - O sr. não teme que pessoas de má índole ao comprarem seus livros já saiam se auto-intitulando mestres de wing chun e passem  a usar o nome da arte marcial chinesa em beneficio próprio,coisa que o sr. bem sabe,no Brasil,é quase que uma "tradição" haver picaretas em todos os estados e capitais?
SM - Não. A internet tem sido mais usada nisso. Livro não ensina ninguém a lutar. A função do livro é fazer o cara se identificar ou não com aquilo, usando para isso informações honestas que dêem dados ao leitor para fazer seu julgamento da melhor forma possível. Picaretas hoje por incrível que pareça compram certificados no exterior vendidos por instituições em tese acima de qualquer suspeita. O cara passa dez anos treinando uma porcaria, ouvindo coisas como “este golpe mata”, etc. e quando precisa usar a arte ela fica lhe devendo. Felizmente todas as vezes que meus alunos precisaram usar Wing Chun para defesa, recebi um telefonema deles me agradecendo pelas lições. Isso sim me dá orgulho do que faço. Mas Wing Chun também não é só isso, porque pode passar toda a vida sem ter de usar a arte. Então, meus alunos e ex-alunos, alguns irmãos de arte que estudaram com Li Hon Ki, todos participam da minha vida e eu da deles, e no fim das contas isso é a única coisa que a gente leva, as amizades que fazemos, nossos laços fraternos.

(Sifu Marcos e Sitaaigung Duncan Leung)
Blog do Dido - Um assunto bem polêmico diz respeito á falta de lutadores de wing chun em campeonatos como ufc ou mma.Ao que o sr. atribui essa "falta"?Seria realmente necessário haver algum representante do wing chun,seja nacional ou internacional em torneios deste tipo?
SM - Só é polêmico porque as pessoas não conhecem a arte e como ela funciona. Se soubessem, isso não seria uma grande preocupação. Originalmente o Wing Chun é uma luta de contra-ataque. O cara fica lá com uma guarda que é quase um prece de monge budista e quando é atacado reage fulminantemente. É muito parecido com aquilo que chamamos hoje – não gosto muito do termo – defesa pessoal. Então, o soco, os golpes, tudo é voltado para um tipo de ambiente de combate diferente do de competição onde a luta é um espetáculo de agressão que necessitava de dois caras indo para cima um do outro. No ambiente de combate irrestrito, você usa uma mesma defesa de Wing Chun para desarmar um cara de porrete, para defender um soco cruzado ou um chute. Os movimentos são ambivalentes e são ajustados de acordo com o calor do momento. Isto torna difícil um nível de especialização para uma competição de lutas específicas para ringue em alto nível.
Quando estive na China, passei por um treinamento que visava adaptar-nos à luta de ringue. Sigung Duncan Leung (mestre de Li Hon Ki) faz isso desde os anos setenta. Hoje, muitos lutadores de nossa escola entram nas competições, mas o fazem praticamente por conta própria, porque todos tem a convicção de que Wing Chun é para o que eles chamam em inglês de “real fights” e eu tive a sorte de conhecer pessoas experts neste tipo de luta, como o próprio Duncan, e dois de seus principais discípulos, Stephen Faukner e Josh Shwan. Eles não dão desculpas de golpes, regras e isso e aquilo para não lutar, eles se arriscaram nas competições para saber o que rola no cenário da luta profissional. Mais cedo ou mais tarde talvez uma escola consiga produzir um lutador de alto nível para este tipo de luta, mas seguindo a característica original do Wing Chun, muito difícil.
Fazendo uma comparação com o que vi na China, se for adaptar para competição de forma mais profissional, o MMA seria um ambiente melhor que um de K1 ou outra competição do gênero. O Wing Chun é forte nos chutes baixos e golpes de curta distância como cotovelos e joelhos, mas ao contrário do que se faz em outras escolas, o lutador de Wing Chun deve evitar a trocação gratuita, mas os caras acham que Wing Chun é só Chain Punch (Soco Corrente). Se o Wing Chun de nossa escola fosse misturado a uma boa luta de projeção como Judô e algum chão seriamos lutadores mais eficientes.
Blog do Dido -  Quais são os aspectos de maior relevância na escola do sifu Duncan leung?
SM - Só existe um Wing Chun que vem de Yip Man então não gosto de falar das características de nossa escola como algo “melhor” que qualquer outra. Então é o nosso jeito de fazer, e isso é apenas Wing Chun. Então vou me concentrar nas coisas que acho que são diferentes de outras escolas. O primeiro aspecto é a noção de “cobrir” ao invés de “bloquear”. No Wing Chun geralmente você espera o golpe vir e então pará-lo. Isso não funciona. E é por isso que a maior parte das defesas clássicas do próprio Shaolin Wushu não funcionam da maneira como você treina. Duncan ensina que ao sentir que vai ocorrer o ataque você deve cobrir a área com a defesa e entrar com seu contra-ataque firme, antes mesmo que o ataque ocorra. Isso faz uma diferença enorme na hora de colocar as defesas tradicionais em prática.
 O segundo aspecto é a força. As bases de nossa escola dividem o peso igualmente entre as pernas e usam o conceito de “forças em direções opostas” para aumentar a força dos golpes, ou potencializar a força da nossa defesa, porque vamos lutar com pessoas mais altas, fortes e rápidas que nós, o wing chun presupõe que haja algum tipo de vantagem por parte do oponente. Leigos em arte marcial acham que você deve recuar braços e pernas para lança-los com mais força, o que realmente é verdadeiro, mas isso telegrafa o golpe. Em Wing Chun, se queremos um golpe forte puxamos o braço ou perna detrás rapidamente e giramos o corpo. Isso gera força curta e explosiva. Em geral se diz que no Wing Chun não se usa força, mas isso não é verdadeiro, Yip Man nunca disse isso. Combinado ao uso de ângulos defensivos que colocam os membros do oponente sempre em contato com as extremidades de nosso corpo (joelhos, cotovelos), o oponente irá se machucar conosco tanto na defesa quanto no ataque. Por isso nossa escola é também chamada de a “Via do Primeiro Contato”.
 O último aspecto que posso mencionar são o uso combinado de chutes e socos na nossa estratégia para a luta. Ninguém nunca conseguirá usar o Wing Chun plenamente se não fizer isso de forma combinada. isso, segundo a tradição do estilo, equivale a usar o comportamento da serpente; se você a golpeia na cabeça, ela te dá com a cauda, e se você o faz na cauda, ela te golpeia com a cabeça. As pessoas pensam que pelo fato do Wing Chun ser um luta vinda do sul da China prioriza apenas os braços. Isso não é verdadeiro. O Wing Chun possui um número maior de ataques com as pernas que braços, mas poucos mestres tiveram acesso a este aspecto do treinamento, porque Yip Man detestava ensina-lo, o que geralmente fazia quatro anos após o discípulo concluir todo o sistema. Mas o grande mérito do Duncan entretanto é fazer os golpes tradicionais funcionarem na luta, coisa que 99% das escolas não fazem.
Blog do Dido - Em 2009 o sr. junto com outros mestres foram á china para um "curso" onde treinou diretamente com o sifu Duncan Leung.O sr. poderia nos contar alguma passagem marcante desta estadia na china e da convivência com este grande mestre?
SM - Nós tivemos sorte de chegar à China primeiro que os nossos colegas da Europa e USA, de forma que tivemos a chance de conversar ele muitas vezes antes do treinamento começar. Logo percebemos a vitalidade dele, que na época já estava com 68 anos de idade. Ele é polido no trato formal, mas firme e sarcástico. Não tem papas na língua. Falava sem rodeios sobre o que achava de Yip Man, seu mestre, e Bruce Lee, seu parceiro de lutas da juventude. Quando manifestamos o desejo de ir ao túmulo de Yip Man ele disse: “Nunca fui lá. Morreu, morreu.” Mas ele entendeu quando explicamos que Yip Man era para nós mais que uma pessoa, mas um ícone, então ele respeitou isso de mandou-nos para lá com um dos seus amigos mais próximos. Numa de nossas idas de carro de Guangzhou a Foshan, ele estava na direção quando um caminhão de transporte gigantesco quase nos esmagou. Todos nós desorientados depois da frenagem, o carro girou e ato contínuo, Duncan passa seu braço por meu rosto empunhando uma laterna de ataque. Ele jogou a luz fortíssima na cara do motorista do caminhão, que levantou os braços como se dissesse: “não atire”. Então Duncan começou a xingar o cara...em inglês!
Ele nos via no treinamento enquanto trabalhava numa grande mesa, sério e concentrado, de cabeça baixa. Parecia que ele estava alheio a tudo. Mas subitamente, se levantava andava pelo salão e apontava, um a um, nossos defeitos contra os lutadores de Muay Thai contratados para nos ajudar atacando realisticamente. Durante o almoço, nós que havíamos treinado três horas seguidas estávamos famintos. Não sobrava quase nada na mesa. Então, todos iam fazer uma sesta, e depois que todos dormiam, ele se levantava, e ia discretamente fazer seu prato. Isso foi algo que me marcou muito. Por fim, antes de irmos embora, ele foi a nossa casa e nos explicou toda a teoria do Wing Chun, com calma, deixando-nos anotar tudo. Que mais posso dizer? O cara não é só um mestre que pagou X de grana até chegar à faixa preta, ele realmente colocou o pescoço em perigo em lutas mortais para que tenhamos certeza que a técnica funciona por muito tempo ainda. Ele é grande como um Oyama, um Hélio Gracie, dentre outros grandes caras corajosos do passado, mas ele diz que não é “ninguém”. Por isso, treinar sob sua orientação e conviver com ele foi uma das maiores honras que tive em minha vida.
Blog do Dido - Por que o sr. escolheu o wing chun?
SM - Eu não tinha talento natural para fazer o judô ou karatê, minhas duas primeiras artes marciais. Eu tinha medo dos garotos mais fortes durante os combates no karatê especialmente (hoje me arrependo de ter abandonado). Sempre que tentava usar os bloqueios eu ficava com meus braços arranhados e sangrando. Eu então comecei a ler sobre Bruce Lee e um dia decidi que iria aprender Jeet Kune Do e Wing Chun. Você se empolga com o discurso, como todo mundo, então eu entrei naquela de querer virar ninja, o caminho fácil, que era o que o Wing Chun prometia (risos). Eu passei metade da minha vida tentando entender essa arte marcial, passando por cima das mentiras até encontrar minha verdade com a arte, o que só fiz recentemente. Foi uma longa jornada para chegar aonde cheguei, paguei um grande preço, pessoal e profissional, mas não me arrependo de nada.
Blog do Dido - O wing chun se diferencia de outros estilos de artes marciais,além de outras coisas,por ter conceitos bastantes subjetivos e particulares. Mas caso algum praticante de wing chun queria treinar outro estilo de luta,o que seria necessário para que este não venha a "meter os pés pelas mãos" e se perder no meio de tanta informação?
SM - Vou além. Digo, com todas as letras, que justamente pelo fato de o Wing Chun ser um estilo que funciona de forma diferente que o praticante é obrigado a praticar outros estilos, pelo menos para saber como estes funcionam na luta, e deixar seu treino mais realista. No Wing Chun, nada é pré-ajustado, você deve se moldar ao que chega a você. Os vexames que os lutadores de Wing Chun passam nas lutas esportivas vêm simples do fato de eles irem para elas sem saber com o que estão lidando. Se você só defende o soco do lutador de Wing Chun -que você só irá encontrar por aí se topar com um lutador de Aikido ou Krav Maga, convenhamos, lutas também defensivas - como você vai se virar contra um boxeador que vem jabeando maliciosamente? Ou contra um lutador de chão? Apenas não tente misturar o Wing Chun com outra coisa sem antes entende-lo com profundidade. Não dará certo. Se for treinar boxe, pense como boxeador até entender aquilo, e vice-versa.
Blog do Dido - Gostaria de agradecer pela honra de entrevistá-lo e gostaria que o sr. deixasse uma mensagem final para os leitores,bem como seus contatos para quem quiser conhecer melhor e se aprofundar no wing chun.
 SM - A mensagem que deixo é a conclusão tiro destes anos todos de treinamento: Se você realmente que algo para sua vida, e estiver disposto a pagar o preço por isto, arrisque, pois tudo vai colaborar para que você consiga chegar onde quer. As pessoas podem até falar mal de você ou não te respeitarem, mas ninguém tira o conhecimento de você, aquilo será seu pela eternidade. E você se torna o resultado de seu empenho, você se constrói como ser humano e artista marcial. Mas se você não arrisca, não vai a lugar algum. Então, para quem quer treinar Wing Chun e acha que não tem físico nem habilidades especiais, eu digo: esta arte marcial é para você, se você se dispuser a arriscar no treinamento, porque seguimos uma técnica. Você vai ganhar capacidade de defesa, com ela virá a confiança e sua auto-estima vai melhorar. Mas se quiser uma arte marcial só para conversar sobre história das artes marciais (não que isso também não seja legal) e filosofar sobre ser guerreiro, seu lugar não é conosco. Numa das conversas que Duncan teve com seus lutadores após o sparring, ele disse: “No dia em que virem que o medo não pode vence-los, não haverá limites para vocês”. Concordo com ele.
SiFu Marcos Abreu
Nona Geração Wing Chun Kuen Phai
E-mail:
wendellabreu@hotmail.com
sifu@kungfuwingchun.com.br

Website:
www.kungfuwingchun.com.br
Blog:



7 comentários:

  1. O Mestre Marcos de Abreu mostra, mais uma vez, porque Kung Fu é "trabalho duro" e Wing Chun do Duncan é sinônimo de pragmatismo marcial com eficácia empírica!

    O Mestre falou tudo - todos os retornos são resultados de esforços e riscos - seja no esporte, na vida ou na luta de rua.

    Bubka, do atletismo, já havia feito menção semelhante: "É errado pensar que o esporte e as vitórias são apenas alegria, glória, medalhas e pódios. Antes de tudo, é um trabalho titânico, de renúncia, severa disciplina e treinamentos exaustivos. Esse é o único caminho. Mas aqueles que são fortes, em primeiro lugar ultrapassam os próprios limites e suas deficiências. E nunca se sentirão totalmente satisfeitos com as chances a conquistar mais uma vitória, tanto na vida como no esporte".

    Grão Mestre Duncan e Mestre Marcos Abreu são exemplos daqueles que são fortes e buscam máximos retornos assumindo altos riscos e esforços.

    Espero ver o próximo livro!

    Parabéns ao Blog pela entrevista!

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  2. voce sempre fala ou escreve muito bem, aprenda a fazer isso mais vezes. gostei muito de sua atitude, esta na hora das pessoas te respeitarem por seu conhecimento pretico e teorico, voce e um grande mestre e como todo grande mestre ainda nao descobriu isso.
    cada dia que vou treinar muay thai aqui na tailandia me lembro de tudo que me ensinou, nao uso as tecnicas do wing chun aqui mas todos os conceitos que aprendi com voce e meu espirito estao todas as horas comigo, aplico os conceitos em qualquer arte marcial e na minha vida social, ensinamentos que vao ficar a vida toda.
    voce se diz sem talento mas acredite que e talentoso e muito melhor que isso tem determinacao e esforcado.
    eu treinei muitas artes mas foi no wing chun que repousei meu espirito, as concepcoes que aprendi com voce sao pra toda vida, um forte abraco sifu!

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  3. Parabéns pela entrevista, Sifu Marcos é um exemplo para a família Wing Chun.

    Vale muito à pena ler o livro.

    Abraços
    Fica com Deus
    Tarciso

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  4. O wing Chun Kuen é um estilo de kung fu prático e simples, mas isso não significa que não precise de dedicação constante, humildade e principalmente atenção por parte do treinando e do sifu. O sifu Marcos Abreu tem todas essas prerrogativas e mais um sem número de qualidades que vão desde a aplicação constante da arte até a atenção do discípulo, ta como o espírito da arte exige.
    Ainda, a falta de segredos com que ele trata os treinamentos, a honestidade e dedicação, além da exigência para se atingir um grau de aprimoramento elevado, faz dos seus treinamentos um dos melhores existentes, o que aprimora não só as habilidades do discípulo, como também a sua alma.

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  5. Sifu Marcos Abreu é um grande exemplo de dedicação e amor pela arte do wing Chun Kuen. Dedicou e dedica sua vida para treinar e divulgar de uma forma apaixonante a essência da arte,bem como incentivar a todos que praticam o wing Chun a superar seus limites e se moldar como a água aos imprevistos da vida.
    A humildade e a perseverança estão presentes em seu coração o que o torna sem dúvida um orgulho para família wing Chun e para mim.
    Me orgulho de ser seu discípulo e compartilhar da sua franqueza durante os treinamentos.
    Parabéns Sifu, que a força esteja com você.

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  6. Que entrevista perfeita, todo aquele mito que tinha quando era guri, sobre os grandes lutadores, ninjas e etc... Vejo que o Wing Chun tem o cuidado diário em aprimorar as técnicas moldadas aos praticantes. Alguém pode mim dizer onde fica a escola do Sifu Marcos em Salvador?, eu moro em Camaçari mais farei o esforço em conhecer, quero visitar e assistir uma aula.

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  7. Dido,

    Por favor, atualize meus dados de e-mail, site etc. que quero republicar a matéria.

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